Doenças da pele
PITRÍASE
ROSEA
A pitiríase rósea (PR) foi inicialmente descrita por Camille Melchior Gibert em 1860. O termo, “pitiríase” deriva do grego, que significa escamas finas e rósea, do latim, semelhante à cor rosa.
Clinicamente a pitiríase rósea é caracterizada por curso evolutivo tipicamente autolimitado de lesões peculiares em placa, de forma arredondada ou ovalada, eritêmato- pápulo-escamosas, distribuídas no tronco e em extremidades; entretanto, diversas variantes atípicas da doença têm sido registradas.
A hipótese infecciosa para a pitiriase rosea, possivelmente viral, é considerada por muitos autores a mais plausível. Não obstante, trabalhos recentes mostraram resultados conflitantes na confirmação do agente causal responsável pela doença. Igualmente admissível é a hipótese de causa multifatorial, induzida por antígenos infecciosos ou não infecciosos (drogas), tendo como suporte a susceptibilidade genética e provável auto-imunidade.
A pitiríase rósea não apresenta predileção racial e tem distribuição universal. A doença acomete ambos os sexos, mas alguns estudos epidemiológicos demonstraram discreta predominância no sexo feminino.
Normalmente, tem incidência sazonal, com algumas variações, dependendo da situação geográfica ou climática do país. Nos países temperados, habitualmente é mais observada nos meses do outono, primavera e inverno. Na América do Norte é mais prevalente nos meses frios ou no início da estação das chuvas.
Trabalhos realizados no Brasil demonstraram, em ordem decrescente, maior incidência da doença nos meses do outono, primavera e inverno.
Sua prevalência estimada na população em geral está entre 0,13 e 0,14%.No Brasil, estima-se que esteja por volta de 0,39%.
Atinge todas as idades, no entanto é mais observada em crianças e adultos jovens, entre 10 e 35 anos. Raramente afeta crianças com menos de 10 anos e adultos idosos.
A pitiríase rósea não é considerada doença transmissível, sendo poucas as citações na literatura de casos de ocorrência em familiares, escolas, estabelecimentos militares ou em outros ambientes fechados.
Recidiva é raramente descrita, ocorrendo em torno de 2,8% dos casos. Pode-se considerar recidiva quando o paciente apresenta outro quadro eruptivo da doença em intervalo maior do que 12 meses após a cura da manifestação anterior. Em intervalos menores são tidos como episódios de reativação. Existem ainda relatos de PR de evolução mais prolongada com cinco a seis meses de duração, e de casos bastante crônicos, de até cinco anos de evolução.
A pitiríase rósea geralmente é doença assintomática e em cerca de 80% apresenta quadro clínico típico, tanto das lesões dermatológicas como do curso evolutivo. Aproximadamente 5% dos casos podem apresentar sintomas prodrômicos tais como cefaléia, artralgias, astenia, vômitos, diarréia e mais raramente tonsilite, amigdalites, faringites e linfoadenopatia generalizada.
A lesão clínica inicial ou precursora é conhecida por "medalhão" ou placa mãe. Essa lesão ocorre em 50% a 94% dos casos como placa única, solitária, eritêmato-escamosa, de crescimento centrífugo, de forma arredondada ou ovalada, medindo de dois a 10cm de diâmetro. O centro da lesão tem aparência mais clara, e a borda externa é mais rósea e exibe delicado colarete periférico de escamas finas. A lesão da placa mãe geralmente precede em média sete a 14 dias o aparecimento das lesões secundárias. A placa mãe habitualmente é mais observada na região anterior do tórax, podendo, em ordem decrescente, ocorrer em outros sítios tais como pescoço, dorso, abdômen e raiz dos membros.
Prurido é sintoma relativamente comum na pitiríase rósea, mas em regra é de pouca intensidade, embora tenha sido descrito como grave em 25% dos casos.
Lesões orais podem ocorrer e comumente lembram aftas. Jacyk et al. encontraram lesões orais em 9% num estudo de 138 pacientes nigerianos com pitiríase rósea. Um estudo em clínica de Cleveland mostrou incidência de 16% de lesões orais dos casos estudados.
As palmas podem ser acometidas em 7% dos casos, e as plantas dos pés em 2%.
Formas com morfologia ou localização atípicas de pitiríase rósea têm sido descritas e ocorrem em cerca de 20% dos casos. Em aproximadamente 5,5% dos casos a placa mãe pode estar ausente ou ser múltipla.
Em cerca de 20% dos pacientes a apresentação diverge da forma clássica, como, por exemplo, a ausência da placa-mãe, prolongamento do quadro, atipia clínica ou só a presença do medalhão.
Quando, ao inverso, as lesões de Pitiriase rosea se estendem em áreas comumente não afetadas pela doença, como face e extremidades, poupando áreas comuns, a doença é denominada Pitiriase rosea inversa.
Algumas formas especiais merecem ser citadas, como a rara forma vesiculosa, mais comum em crianças e adultos jovens africanos. As lesões podem ser unicamente vesiculosas ou mistas e costumam apresentar distribuição generalizada, incluindo palmas e plantas. A forma pustulosa é extremamente rara.
A forma pigmentosa é geralmente vista em pessoas de pele morena e pode ser relacionada como uma das causas de pigmentação eruptiva maculosa idiopática descrita por Degos,Beilaich e Civatte.
Entre os nigerianos, a Pitiriase rosea tem características clínicas mais exuberantes, ultrapassando os limites da distribuição clássica, incluindo face e mucosa oral.
A forma anular ocorre como lesões irritadas, lembrando o eczema numular. A forma papulosa, comum em crianças, grávidas e melanodermos, quando não se acompanha da placa-mãe, representa um caso de difícil diagnóstico diferencial.
A Pitiriase rosea na forma urticata, comum em pacientes ansiosos, pode simular, nos primeiros dias, urticária aguda, mas, com a evolução, passa a cicatrizar a partir das bordas. A forma purpúrica ou hemorrágica é comum, afetando principalmente crianças, com lesões purpúricas mínimas espalhadas pelo corpo.
As lesões da pitiríase rósea gigante são pouco numerosas, porém maiores e mais persistentes, geralmente desenvolvendo-se em torno da placa-mãe, confinadas em algum local do tronco. Quando se tornam confluentes e circinadas, recebem a denominação pityriasis circinata et marginata de Vidal.
A forma eritrodérmica é resultante de extenso acometimento pelas lesões secundárias.
Apesar de ser doença que habitualmente apresenta quadro clínico típico, a lesão inicial de placa mãe e a pitiríase rósea de grandes placas podem mimetizar dermatofitose e eczema numular.
Na fase secundária da doença faz-se sempre necessário o diagnóstico diferencial com a sífilis secundária.
Por se incluir no grupo das doenças eritêmatoescamosas, em casos de evolução mais prolongada impõe-se o diagnóstico diferencial com a psoríase gotada, parapsoríase e micose fungóide. Em casos generalizados pode apresentar confusão com a dermatite seborréica eritrodérmica. As formas papulosa e liquenóide podem lembrar líquen plano, erupções liquenóides a drogas e pitiríase liquenóide e varioliforme aguda.
TRATAMENTO PITIRÍASE RÓSEA:
Em casos mais graves de pitiríase rósea, têm sido utilizados radiação ultravioleta (UV), corticóide sistêmico e eritromicina oral. Esses esquemas terapêuticos objetivam não só o controle do prurido e a melhora das lesões cutâneas, como também a redução do tempo de evolução da doença.
IMPORTANTE: Procure o seu dermatologista para diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios.
BIBLIOGRAFIA: Miranda SMB, Delmaestro D, Miranda PB, Filgueira AL, Pontes LFS.Pitiríase rósea. An Bras Dermatol. 2008;83(5):461-9.